Deixa o vento assoviar.
Deixa os pensamentos ecoarem.
Me deixe correr. Tenho pressa, preciso esvaziar esse espaço.
Tento, busco por isso, me agarro com todas as forças aos ímpetos que me fazem não querer repetir os dias.
Mas os dias se repetem... e se repelem...
Presta atenção, escuta o silêncio....
Ele tem um grito preso na garganta.
O silêncio é a arma mais letal que existe.
Mata as vontades
Mata as expectativas
Mata o querer bem
Mata o amor
Resseca a alma
Mas calma...
Deixe o tempo agir
Deixa o peito sossegar
Deixa a vontade passar
Só não deixa teu mundo cair
Ja caiu a tempestade
Devastou a alma
Não teve piedade
Deixando apenas destroços do que um dia fomos
Depois dessa tempestade, volta o silêncio
Os olhos voltam para o que um dia existiu
A brisa volta a soprar leve
Coração desacelera
E é neste momento que o silêncio espera ser ouvido
E o grito preso na garganta espera o momento de se libertar...
No silêncio cabem muitos gritos...
No vazio cabe muita coisa...
Um comentário:
"É um silêncio que não dorme: é insone, imóvel mas insone; e sem fantasmas. É terrível - sem nenhum fantasma. Inútil querer povoá-lo com a possibilidade de uma porta que se abra rangendo, de uma cortina que se abra e diga alguma coisa. Ele é vazio e sem promessa. (...) Depois nunca mais se esquece. Inútil até fugir para outra cidade. Pois quando menos se espera pode-se reconhecê-lo - de repente. Às vezes no próprio coração da palavra. Os ouvidos se assombram, o olhar se esgazeia - ei-lo. E dessa vez ele é fantasma." - LISPECTOR, Clarice. In, Onde Estiveste de Noite.
Claros são; portanto, os dois silêncios evidenciados, o estatuto duplo do silêncio: o silêncio do tipo zero (0), sem fantasmas, articulando a noção de vazio, zerando a existência, mergulhando no nada; e o silêncio do tipo (-1), o silêncio do confronto da falta, da quebra, da ruptura, com fantasmas que se fazem presentes, mas são ausentes, tangenciando modos de ser e de existir.
A dificuldade em suportar o silêncio -1 está relacionada a não saber lidar com a falta, com a ruptura e, por que não, com o novo, o desconhecido, o zerado.
Boa Tarde!
Lourenço Benetti (seu irmão, sua desnaturada que eu amo)
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