sexta-feira, 13 de julho de 2012

O contato com as coisas da vida


No último final de semana a Ana Clara teve contato com algo que ela desconhecia de fato: a morte.

Uma tia-avó do pai dela, que estava muito doentinha, infelizmente acabou falecendo.
Não era alguém do convívio diário da AC, mas ela identificou facilmente quem era quando falei que era  "a vovó da Natália".

Expliquei que a vovó estava dodói, que tinha falecido e que nós não poderíamos mais vê-la, mas que poderíamos imaginar que ela era uma estrelinha no céu.

E então veio a pergunta: como é que a gente fica quando morre?

E então minha gente, como é a que gente fica quando morre? Complicado explicar isso pra uma criança... nossa....

Disse que a vovó parecia estar dormindo e vendo nos olhos a curiosidade dela, perguntei se ela gostaria de ir até onde a vovó estava.

Ela disse que sim. Respirei fundo e achei que fosse o momento certo para apresentá-la a esse momento triste que todos nós, mais dia ou menos dia, precisaremos enfrentar.

E assim foi. Seguimos para onde a vovó estava sendo velada.
Chegando lá, ainda no carro, dei as orientações básicas: expliquei que era um momento triste, que as pessoas que amavam a vovó poderiam chorar, que ela não deveria gritar ou começar a rir lá dentro e principalmente, que ela poderia perguntar tudo que quisesse, desde que fizesse isso baixinho no meu ouvido (sabe-se lá o que uma criança de 5 anos poderá ter de dúvidas...)

E seguimos. Ela deu uma olhada no ambiente e logo me disse que queria ir ao banheiro. Levei.
Lá dentro ela me pergunta o que era aquela caixa. Explico que é onde a vovó estava, junto com muitas flores.

Espanto total no rostinho dela: "Como assim? A vovó já morreu? A gente não ia ver a vovó morrer?"

Gelei... Sorte que dei as orientações preliminares deixando claro que ela deveria perguntar as coisas diretamente à mim e em tom de voz moderado...

Lá fui eu explicar que não, que só quem viu a vovó morrer foram os médicos que estavam com ela.

Voltamos para a sala. Ela pediu pra ver a vovó, mostrei, ela comentou baixinho que a vovó parecia estar só dormindo e respondo apenas que era isso mesmo que parecia...

Logo ela se distraiu brincando e correndo com a priminha Natália, que tem a mesma idade que ela, e ambas pareciam não estar entendendo muito do que estava acontecendo ali.

Seguimos para o cemitério e a AC novamente mais observou do que comentou. Confesso que isso me dá um pouco de medo, pois conheço minha cria e silêncio e observação normalmente convertem em uma pergunta ou situação embaraçosa.

E não deu outra!

Quando estávamos indo embora escutamos o seguinte comentário de uma menina fofa que tenta sempre ser agradável em tudo que diz e faz: "Mãe eu AMEI ver a vovó. Vou querer ver todas as pessoas morrer daqui pra frente! Todos os papais, todas as mamães, todas as crianças..."

Quase desmaiei!!!!!! Realmente ela não compreendeu  o que a morte significa e o quanto é um momento triste.

Voltei a explicar que não podemos amar isso. Que precisamos entender que é um momento de despedida e que não poderemos voltar a ver a pessoa, e que ela vai ficar viva apenas dentro do nosso coração.

E eis que meu pequeno orgulho me responde:

"Mãe, mas não é um momento tão triste assim. A vovó vai ficar viva no coração e quando a gente olhar o céu vai ver uma estrelinha que é a vovó lá em cima!!"

E fica a pergunta no ar: Quem de nós duas não sabe realmente o que é a morte?